No meio do caminho tinha uma pedra No meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra. Nunca me esquecerei desse acontecimento na vida de minhas retinas tão fatigadas. Nunca me esquecerei que no meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho no meio do caminho tinha uma pedra. Carlos Drummond de Andrade
sábado, 5 de dezembro de 2009
Falando sobre o assunto
sexta-feira, 4 de dezembro de 2009
Que mega hair que nada, a moda agora é máquina zero
quinta-feira, 3 de dezembro de 2009
A gordura de urso
Morei por dois anos no Canadá, estava entediada da minha rotina e solicitei um estagio (fellowship) em Alberta, parecia uma coisa de maluca, tinha no Brasil uma situação estável, emprego na Universidade, consultório cheio, mas a possibilidade de mudar o rumo da minha vida foi mais atraente. De médico e louco ..... Passaporte carimbado, apartamento alugado la fui eu com minha filha e irma pra Alberta. Teve de tudo, o deslumbramento, ofertas de emprego e também decepções. Afinal aqui eu já tinha minha posição bem definida, minha opinião era ouvida, as discussões funcionavam de outra forma. La fora apesar de bem aceita outros detinham a palavra final. Apesar de toda a minha experiência eu tinha assumido que estava la pra aprender. Difícil navegar na cultura alheia. Reagir de forma diferente, baixar a cabeça, adaptar...... Quase todo paciente de câncer consegue relacionar o surgimento de sua doença com uma situação adversa, a minha foi a minha relação com o fellowship. O Canadá foi maravilhoso, novos amigos, paisagens lindas e um super treinamento na cozinha que resultou em uma experiência muito boa. O frio canadense foi cruel no primeiro ano, sabe como é demorei pra comprar um carro ai usava o transporte publico que funciona bem e as caminhadas. Na verdade tive que juntar a grana antes pra comprar o carro e a caminhada era um jeito de tentar manter o peso. Difícil não engordar com tanto muffin e panquecas com mapple. Num dos dias de janeiro ao voltar a pé, apos o plantão, a temperatura registrada marcou menos 42 graus. Imaginou ? Garanto que foi pior que isso. Você já reparou como eles, acostumados a este clima por meses seguidos circulam pra la e pra ca em trajes bem menos pesados que a gente quando a temperatura aqui bate uns 12 graus? E bem possível que a gordura marrom, aquela que temos no corpo pra combater o frio seja um pouquinho mais desenvolvida neles, assim como nos ursos.....
Um dos exames necessários pra se avaliar o estagio da doença chama-se PET CT, não precisa xilicar não estou aqui pra decifrar o submundo destas siglas complicadas. Ta interessado, da uma gugada (pesquisa no google) e pronto. O que aconteceu comigo foi que apos marcar, fazer e pagar uma grana pelo tal exame recebi a noticia de que não tinha dado certo. Como a sala e refrigerada a tal gordura marrom resolveu entrar em ação e captou parte do marcador comprometendo o resultado do exame. Será que dois anos foram suficientes pra eu começar a minha transformação em ursa? Tudo bem que eu havia ganho uns quilinhos e que depilação era meio complicada por la mas mantinha uma certa freqüência das minhas visitas aos spas da White Avenue. Ok, pra refazer o exame me vesti com algumas roupas quentinhas e com a ajuda de outro remédio consegui realizar o PET. O melhor de tudo foi o resultado que mostrava que o tumor não havia se alastrado. Obrigada Jesus!
terça-feira, 1 de dezembro de 2009
Este poema de Drummond é de uma simplicidade e intensidade que choca.
Sempre adorei Drummond e pro meu momento atual tem tudo a ver.
Diante de uma dificuldade ou obstrução, são inúmeras as reações disponíveis de acordo com o momento. To falando difícil, relaxa, é o meu primeiro relato, ainda em fase de aquecimento.
Voltemos a pedra, o que fazer? Bem eu decidi sentar e conversar com ela. Tá bom, to forçando a barra, tenho uma confissão a fazer: meus amigos mais íntimos com certeza vão concordar, sou mais pro tipo dar um grande bico na pedra e simplesmente seguir em frente , não sem antes reclamar !!&@&& um bocado. Mas não dá pra fugir da fragilidade que nos cerca neste momento. O medo que invade o coração ......
Tenho 45 anos, sou médica e após uma temporada de 2 anos no Canadá retornei pra Campinas pra retomar a minha rotina. Pois ai as coisas tomam outro rumo. Com poucas semanas em casa recebi o diagnóstico de Câncer de Mama e vivi intensamente a toda a reviravolta que se segue a isto. O medo, a insegurança, a frustração .... Não que eu seja boca suja mas cabe aqui uma série de palavrinhas desagradáveis que vieram na cabeça mas que decidi deixar de fora do relato. Que tal a sinalização gráfica da coisa.?#$@!!!&. Difícil não ser melodramatica neste começo, mas já sinalizava uma reação.
Era um momento tão especial, retornando ao meu ap., comprando carro, resgatando uma identidade que tinha ficado meio em suspense por conta do projeto canadense.
Chorei um bocado, principalmente com os amigos mais próximos. Abri meu coração e deixei a Fé me preencher. Em todos os momentos desde a minha chegada ao Brasil o salmo de 23 estava presente e fez todo o sentido. Até na novela da 7 ele apareceu pra me encorajar e a tantas outras que viviam o mesmo diagnóstico. Com isso entendi que teria que passar por isso escolhi deixar as reclamações de lado e buscar o fortalecimento na minha relação com Deus, com a família, com os amigos, comigo mesma. Tenho que falar que conviver com a fatalidade é bem diferente de parar de lutar com ela. Desta forma, renovada, procurei me informar do que poderia fazer pra passar por esta fase da melhor maneira possível . Contei com uma mãe e filha maravilhosas, irmãos, cunhadas e sobrinhos fantásticos e amigos excepcionais. Tenho noção do quanto fui exigente do amor e atenção deles e eles simplesmente mostram o quanto minha imaginação ainda estava limitada pro tanto que eles tinham a me oferecer.
Meu médico também foi muito importante, seguro, tranqüilo e muito carinhoso me acolheu e iniciou o melhor tratamento pro meu caso. Sempre respondeu minhas questões de forma honesta e objetiva e imaginem como é difícil ter como paciente outro médico. Passei pelo estadiamento. Que fase dura, exames não cobertos pelo plano de saúde e muita insegurança. Acho que nesta hora passou pela minha cabeça chutar a pedra, mas ela era grande demais, e o estrago seria igualmente grande....