Ando muito comportada, tomando vitaminas, comendo natureba, evitando aglomerados e engolindo todos os remedinhos prescritos. Quase não me reconheço, desde agosto também não uso ácidos, aqueles poderosos componentes do meus cremes diários. A pele também sofre com a quimioterapia, fica mais seca e mais susceptível a manchas. Tenho abusado do filtro solar varias vezes ao dia, mas o bronzeado não sai daquele padrão branco hospitalar. Imagine que nos últimos dois anos não sei o que e praia e já me esqueci da sensação boa que é se esticar que nem jacaré e esquecer da vida. Então hoje, pra comemorar a chegada do verão eu me permiti cabular as regras. Vesti meu biquíni novo, que aguardava no fundo da gaveta e achei um lugar ao sol. Só um pouquinho, por uma horinha somente, fiquei jacarezando pra pegar uma corzinha mais tropical. Parei de pensar nas conseqüências e me reservei o direito de me rebelar. Por fim tenho como justificar este ato de rebeldia. Meus estoques de vitamina D estavam baixos após minhas andanças pelo hemisfério norte, tenho que aproveitar a depilação quase que completa que não vai durar pra sempre (apenas os pelinhos do braço resistiram a quimio), um biquíni novo na gaveta e uma fome de sol......Foi uma verdadeira delicia sentir aquela quentura boa no corpo, o sol tem este efeito mágico de alegrar o coração, lembro de buscar por ele, pálido e distante no Canadá sempre esperando por mais. E imaginar que enquanto eu me encanto com o verão meus amigos canadenses estão sofrendo com o inverno de menos 30 graus. Vou continuar com apenas uma horinha por dia, por mim e por eles. Vou deixar marcar no corpo o negativo do biquini e me sentir brasileira novamente. Agora está faltando pouco e uma das metas pro próximo ano será reservar uma semana na praia com muito sol.