sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Falando a mesma língua

Tenho que confessar que andei bisbilhotando uns blogs sobre o mesmo tema. Principalmente depois que fiquei mal após uma quimio. Queria informações leigas sobre o assunto, mais reais ......Achei blogs fantásticos e até mandei e recebi emails. Ajudaram muito. Por este motivo vou adotar a linguagem que invariavelmente todas usam quando se referem a quimioterapia. O fato de ser médica me confere algumas vantagens com relação a poucos quesitos mas quando o assunto é puramente da oncologia sou mais uma na multidão. Então adotarei a mesma linguagem: a da quimioterapia vermelha e da quimioterapia branca.
Vamos ao que se trata. A quimio vermelha é  quase sempre a dos principiantes ou seja, caso alguém na sala esteja tomando esta é bem provável que esteja no inicio do tratamento. Quando ouvi falar dela pensei que fosse vermelha cor de festa tipo grozelha, mas era mais pra Campari que depois de adicionar gelo ou quando começa a ser eliminada no xixi vai se desfazendo em matizes alaranjadas. Tal como o Campari, a quimio vermelha é um enjôo do inicio ao fim, a começar pelo cheiro, depois a gente enjôa da comida, do cheiro do perfume, sabonete, creme hidratante e por fim enjoa até dos programas de TV. Ao final também nos presenteia com uma dor de cabeça mais propriamente no couro cabeludo,  sinal este de que os cabelos vão cair..... No restante foi tranqüila, ao final de 4 quimios vermelhas programei o meu retorno ao Hospital (queria trabalhar), época que também coincidia com a diminuição dos casos de gripe suína. Mais ai experimentei a quimio branca (no meu caso o Doxitaxel). Esta eu comparo com a cachaça, parece que a gente se conhece e que vai ser tudo de bom. O problema é que a coisa degringolou. Nem todo mundo experimenta as mesmas reações ou a mesma intensidade. A minha ressaca foi #$#@#$%^.
Tipo trombada com o caminhão de lixo. Uma dor no corpo alucinante, era difícil até respirar e não havia remédio que aliviasse. Depois a mucosite que definirei na próxima postagem como a boca de dragão, e pra acabar febre e baixa imunidade que me puseram de molho no Hospital por 5 dias.  Nesta época meu olfato ficou aguçadíssimo, sentia o cheiro da branquinha no meu halito, no xixi, no suor e o pum se bobear ainda vai ser patenteado como arma  bioquimica pra exterminio em massa. Ainda terei mais uns ciclos da tal branquinha e peço a Deus para que seja mais fácil de tolerar. Mas deixando os efeitos colaterais de lado o que importa e que eles acabem com a células do mal, o mais a gente leva.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Aprendendo a comer ou A dieta dos olhos azuis


O câncer de mama é considerado epidemia em vários lugares do mundo, e sua relação com hábitos de vida como tipo de alimentação, relação com trabalho e nível de stress tem sido alvo de muitos estudos. As políticas para aumento de produção aliadas ao uso de pesticidas visando uma aumento nos lucros nem sempre vem de encontro com a manutenção da qualidade dos produtos oferecidos e consumidos pela população. Hoje comemos muito e temos diversas opções, mas será que comemos bem? Tenho que reconhecer que a minha alimentação não é das melhores, mas também não é das piores. Mesmo morando no Canadá, com uma oferta absurda de doces, Macs e coisas do gênero, tinha a preocupação de cozinhar e evitar os Fast Food. Pecava pela falta de frutas e verduras pois nem sempre é fácil achar frutas gostosas no inverno canadense, então comia quando podia. Comprava muito no Planet Organic mas nem sempre achava os produtos que queria. Nos resta reconhecer que parte do problema está na oferta que nem sempre é adequada aquelas pessoas que querem partir pra comidinhas mais naturebas. E evitar gulozeimas requer um treinamento de choque como ao que agora me propus. Recebi a indicação do livro Anti-câncer que me pegou de jeito. Por vários motivos dá pra se encantar com o livro, a começar pelo autor, um médico gatérrimo de lindos olhos azuis.Eu me apaixonei logo de cara, depois fui me envolvendo com sua historia, um relato de como ele resolveu ser pessoa participante em seu próprio tratamento contra um câncer no cérebro. Trata-se de uma ampla discussão sobre outras coisas que podemos fazer, alem das terapias convencionais, que apesar de não conter muita base cientifica, ajudam a gente a lidar com o corpo e tirar vantagens na luta contra o câncer. Quer seja comendo melhor, fazendo exercício ou buscando equilíbrio nas nossas relações de vida. Com certeza nos remete ao fato de que o fortalecimento da alma e do corpo são ferramentas fundamentais pra combater o mal que nos acomete. Não fala muito sobre o fortalecimento espiritual, mas eu asseguro que o espírito tem que se fortalecer e que é parte fundamental no processo de cura, pois a Fé nos capacita a ver as coisas de outra forma quando o chão escapa dos nossos pés.


Alimentar de forma correta o corpo, mas também alimentar o espírito com o pão da vida. Muito do que tem no livro tem sido amplamente divulgado na internet. O exemplo mais conhecido é sem duvida o da linhaça que deve ser consumida diariamente com frutas, no leite, iogurte ou conforme a sua vontade. Cabe entretanto uma ressalva, pra se aproveitar de todos os seus benefícios a semente deve ser triturada imediatamente antes dos consumo.


Pra mim a parte mais difícil coube ao chá verde. Não tenho nenhuma raiz indiana ou inglesa e acho água quente um nojo, mesmo que saborizada. Ainda estou trabalhando com algumas receitas pra tomar o poderoso chá que muito tem a oferecer no combate as células cancerígenas. Quanto aos doces, bem aceitei a sugestão do livro de consumir somente duas vezes na semana, tem funcionado por enquanto sem muito sofrimento..... Mas com as comemorações de fim de ano vou ter que ficar centradinha no planos de dieta pobre em doce. Muita fruta desidratada e xarope de guava pra ajudar nesta empreitada. Outra coisa que ajuda é consumir chocolate amargo, o melhor que achei foi a trufa de chocolate 70% da Cacau show, espero que eles ouçam meu pedido e tragam ela de volta......

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

O primeiro ciclo

Mulher é um bicho doido, no dia da minha primeira quimio tava me borrando de medo. Já tinha ouvido um tanto de historias e visto um não sei quanto de filmes mostrando a cenas do que acontece com muito enjôo e vômitos. Mas me fixei no guarda roupas. Vai parecer aqui que sou muito vaidosa o que não e verdade, mas conseguia pensar que eu tinha que enfrentar isso tudo de cabeça erguida e meu lema sempre foi: tudo se resolve quando usamos um bom perfume francês e passamos um belo batom. Então era fundamental escolher um modelito pra levantar o astral. Alem disso muito rimel nos cílios pra realçar o olhar. Já sabia do que estava por vir: tanto cílios quanto sobrancelhas iriam minguar em breve. Então escolhi o chapéu certo, uma roupa com cores animadas, deixei a apreensão de lado e fui pra clínica. Vários estudos científicos relacionam o estado de humor com a evolução da doença. E fácil entender por que a gente se arrumando, se animando, acaba enviando uma mensagem pro corpo de que estamos na briga, então nesta hora parei meu papo cabeça com a pedra e mandei um chutaço. Vamos a luta.
Como em toda luta, a gente perde um pouco, as vezes muito pra se alcançar a vitoria no final. Fiquei na espera. Os efeitos colaterais da primeira quimio apareceram no dia seguinte, de inicio leves e de fácil controle, como estava tomando quilos de remédio pra enjoo fiquei molinha, uma vez que estava funcionando resolvi ficar quietinha no meu canto, assistindo TV e lendo um livro, deu pra passar pela primeira sessão sem grande sofrimento. No final de semana encarei ate o shopping. Uhhu...

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

O portocath

O Portocath
Reservei um espaço pra ele, não tenho nada engraçado envolvendo sua colocação ou uso, mas caso alguém acesse o Blog pra se informar vai entender o meu relacionamento de respeito com o cateter central. Por recomendação médica existe a possibilidade de se implantar um dispositivo chamado Portocath. Ele mantém um veia profunda ligada a um reservatório de silicone que fica debaixo da pele e pode ser puncionado para se dar a medicação, desta forma a dolorosa punção venosa (pegar a veia) vira coisa do passado. Vários planos de saúde cobrem tanto a pequena cirurgia quanto o cateter, dependendo da necessidade. Vale a pena checar junto ao seu plano antes de conversar com seu medico, se informar sobre o tipo de cateter, sua utilização e indicação antes de qualquer coisa. Pra mim foi tranquilo, mas tenho uma amiga que foi colocar quase no fim do tratamento e o médico usou um diferente do que ela viu em mim,  isto a deixou bastante chateada.
Lembre-se perguntar não ofende e nesta loucura toda a gente ouve, ouve, mas não entende direito muitas das trocentas informações que recebemos. Eu que sou toda certinha com agenda e o mais, confundia datas de consultas, exames e outras coisinhas.....Cheguei a ir pra uma quimio com duas semanas de antecedencia. Na verdade era pro tratamento acabar mais rápido.....
No CAISM, onde são atendidas as mulheres com Ca de mama, é fornecido um folheto explicativo muito bom. Quando precisei internar não estava com o meu folheto a mão o que poderia ter me poupado um pouco de stress. Não são todos os enfermeiros e médicos que sabem usar este cateter de forma adequada. Como ele é usado em grupos selecionados de pacientes dá pra se entender por que a capacitação de profissionais de saúde apesar de cara, é fundamental. São muitos os avanços da medicina e fica dificil se acompanhar Recebi dicas valiosas de uma querida amiga que atualmente trabalha na oncologia do CAISM. Uma delas carregar na bolsa o folheto do Portocath. Foi no meio de uma internação que essa amiga veio com tudo que foi informação, pra mim bastava saber o telefone dela e saber que podia contar com ela. Valeu! No embalo vou pedir pra ela pra escrever e deixar em arquivo PDF estas valiosas informações. Mais um projeto pro Blog.