quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Discutindo a relação: Médico e paciente.

DISCUTIR: defender ou impugnar (assunto controvertido); questionar.
RELAÇÃO: comparação entre duas quantidades mensuráveis.             (Aurélio)                                                                        

A relação médico-paciente é parte fundamental do tratamento. No bem humorado livro Força na Peruca a autora avisa para escolher um médico não  muito velho pois o tratamento é longo, o seguimento chega a ser de 10 anos. E no caso de não haver uma boa sintonia com relação a seu médico, busque  outro profissional. Logicamente buscamos médicos conceituados, atualizados na área, que transmitem segurança com relação ao tratamento. Porém neste momento de fragilidade extrema, sensibilidade, bom senso, capacidade de expor a situação em linguagem simples, e como será o tratamento e suas conseqüências  são tópicos imprescindíveis. O grande problema acaba sendo o de lidar com pacientes em frangalhos e cheios de duvidas sem um treinamento adequado. infelizmente este treinamento não se aprende nas escolas de medicina. Apesar da maior atenção com relação a este tema, ainda falta chão pra que as escolas efetivamente ensinem o profissional a estabelecer uma boa relação com seu paciente. Relação esta que deve focar simpatia, acolhimento, confiança, segurança e apoio. A expressão de gestos que simbolizem agradecimento, carinho e afeto são igualmente importante.
Porém como disponibilizar tamanha atenção mediante o sucateamento da consulta médica. Com honorários baixos, o médico também se vê refém de um sistema desumano, mas uns conseguem se destacar. Tenho que admitir que muitos se empenham e fazem mais do que podem. Mas...
Bem quanto a mim não tenho reclamações, me senti acolhida de imediato, mas isso não significa que não pintaram pequenos atritos por assim dizer. No papel de paciente o médico é conhecido como difícil, o mesmo ocorre com a enfermeira e outros profissionais da área...
Isto tão somente reflete uma leve disputa por poder. Deixa explicar melhor. Quando a gente vira paciente, deixa de ser médico e ai lá se vai o poder....Diante da doença nos descobrimos vulneraveis e a deriva mesmo com anos de pratica por estes oceanos. Um outro profissional, mesmo que escolhido com o coração passa a ser o responsável pelos exames, remédios, e tudo o mais que nos é tão corriqueiro. Somos na maioria das vezes questionadores e um tanto quanto chatos quanto as informacoes. Somente perdemos pros gugueiros de plantão que pinçam informações na internet (do Google),  muitas de fontes não muito boas e querem discutir isso e aquilo sem muita solidez. Mas esta discussão faz parte e lidar com ela é o grande desafio. Entender o medo, a angustia que se escondem atrás das perguntas... Pois veja o que aconteceu comigo. No começo tambem fiz minha busca. Inicialmente pesquisei sobre como falar com as pessoas próximas, sobre reações da quimio pois não lido com isso e o que lembrava estava em muito desatualizado. Pesquisei também sobre como utilizar o portocath que foi útil e o mais deixei pros meus médicos decidirem. Evitei o maximo o papel de vitima que nem de perto me cai bem. Tudo tranqüilo até que fui internada.... No Hospital, mais destituída do meu poder, frágil e amedrontada, o bicho pegou e posso dizer que me meti demais. Mas eu sou a pessoa mais interessada em que tudo corra bem, então não dá pra simplesmente fechar os olhos. Diante de uma duvida fui questionadora, quanto a medicações queria saber de tudo e acabei mais chata do que queria. A prescrição inicial foi orientada pelo oncologista mas muitos itens foram solicitados pelo médico do PS que não tinha uma avaliação completa do meu caso. Como meu oncologista trabalha em São Paulo e Campinas, outro da equipe veio me ver no dia seguinte. Foi logo me avisando com delicadeza, que eu era o paciente e não o médico. Entendi que estava avançando no campo alheio pela disputa de poder. Me desculpei e respondi que não era minha intenção interferir com a conduta oncologica proposta e que simplesmente não estava de acordo com pequenas coisas, como medicação pra dor quando não estava com dor, ou pra enjôo que não estava sentindo. Pra mim isso significava mais manipulação do meu cateter central. Lá no Canadá todo mundo entende e funciona assim, aqui na luta pelo poder, o médico responsável pode se sentir ameaçado e  aí o atrito pode ir pra outro nível. Felizmente não foi o que aconteceu, depois de tudo esclarecido, expliquei meu medo pela contaminação do portocath e apos uma nova avaliação clínica chegamos a um bom termo. Esta maturidade somente e possível com entrega e um  dialogo franco. Não podemos esperar que o médico acerte sempre, esperamos que ele de o seu melhor. Temos que respeitar seu limites físicos, horas mal dormidas, família pra cuidar e  outras tantas preocupações. Mas não é assim que se constroem relacionamentos? E preciso achar o espaço pra que a esta relação seja de parceria, sem vitimas e/ou senhores detentores do saber supremo.
Agradeço aqui aos meus médicos queridos, Marcelo, Flavio e Cabello pelo carinho e acolhimento e por trabalharem muito bem nossa relação.