Dias atrás fui ao cabeleireiro, finalmente chegou a hora de dar um trato no cabelo, uma nova cor, um corte. Na cadeira do salão, dei de cara com meu reflexo no espelho, uma imagem distante, diferente, colorida, viva, mas de certa forma uma imagem desconhecida, uma outra pessoa. A farta cabeleira ruiva que me conferiam uma identidade irreverente deixara espaço para um grisalho indefinido. Um ar de senhora que não combina nada comigo. Tenho reparado que varias ondas estão se formando na minha cabeça, vindo a confirmar a historia de que apos a quimio e a carequice, o cabelo retorna rebelde e encaracolado. Muitos amigos me incentivaram a manter o cabelo curtíssimo e grisalho, mas ainda não é meu tempo pra isso. Ainda não me sinto a vontade com os residentes me chamando por senhora. Não posso negar que o tempo passa pra mim como pra qualquer outro mortal, mas quero sentir o cabelo entre os dedos, ousar num penteado curtir um simples rabo de cavalo, me sentir mais jovem. Escolhi uma cor discreta, um corte sem firulas, ficou bom. Ainda volto pro vermelho, mas não agora. Não estou brigando com os cachos, vou dar espaço pra eles, usar um creme pra melhor defini-los. Não dá pra imaginar que serei a mesma depois de tudo. Não quero ser a mesma depois de tudo. Além dos cachos, o meu novo eu também esta buscando seu espaço, seu lugar. Esta buscando definição pra compor uma pessoa melhor. Cair pra levantar. Se entregar, para receber. Rasgar o coração pra curar as feridas e abrir novos caminhos. Renovar-se. Seguir em frente e sair pro abraço. Agradeço a todos de coração, sem o apoio da família e dos amigos e sem mão caridosa do Pai eu não teria suportado.
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